sábado, 22 de agosto de 2009

Pauis de tenra erva

aboim
agora às trutas no ribeirinho
até várzea cova: havia um cão
grande e manso só com três patas, junto à igreja.
as trutas nos luminosos anos setenta
no ribeirinho de aboim eram pequena
mas em abundância, só pelo julho
nos açudes silenciosos o saltão a patinar na água
iludia trutas de palmo, às vezes maiores.
dizem-me (desagradável voltar aos lugares
onde se foi feliz) dizem-me que agora é um imenso chavascal
os açudes se alagaram, sôfrego silvedo cobriu o sussurro da água
campos, caminhos em redor.
o padre de várzea cova fazia exorcismos
e a imagem incompleta do cão grande
parecia (os verdes anos têm esses imaginosos pensamentos)
indiciar o árduo ofício do sacerdote de acudir
aos fiéis atormentados. nesse tempo, os campos junto ao ribeirinho
estavam cultivados, pauis de tenra erva que o gado
pastava pela tardinha para fugir à mosca. E havia as filhas
do matalobos que nos espiavam pelo postigo do moinho
naquele lugar ermo, cercado por carvalhais.
em redor de Aboim nos montes que nunca foram maninhos
há enormes ventoinhas e os felizes emigrantes. agora o agosto
o agosto que dá uso a caminhos velhos.

Sem comentários: