Da janela da minha noite
com a minha espingarda de dois canos
disparo furiosamente
virado ao céu
caem pequeninas estrela
ensanguentadas de azul
e eu tão só queria apenas
pregar um susto
um susto de verdade – adeus.
Da janela da minha noite
com a minha espingarda de dois canos
disparo furiosamente
virado ao céu
caem pequeninas estrela
ensanguentadas de azul
e eu tão só queria apenas
pregar um susto
um susto de verdade – adeus.
Se a pomba não estivesse ali, tu não acharias a palavra. O vocábulo que definha, dilui-se como espécie cinegética na vegetação rasteira, mirrada pelo estio, dos montes. A palavra (já descobriste?) acomoda a cor à cor da ruína e assim despista o predador. Mas a pomba, ponto negro no luminoso abandono, atraiçoa-a (talvez não seja o verbo justo). A pomba (último habitante das cidades sem gente) redime o abandono – se não estivesse ali, à janela, sereníssima expiação do mundo, jamais escutarias a triste cantilena do silêncio.
(Foto de Augusto Baptista)