sexta-feira, 16 de maio de 2008

A PEDRA CABISBAIXA

*

Tu não sabes, a mulher das colinas

esperou por mim a vida toda. Admitiu

o impossível conselho teu: não dorme

para perseverar a juventude.

Uma ave silenciosa diz-me o atalho das colinas,

a mulher sustém um lírio contra o peito.

Peço, peço-lhe que me leve junto do muro,

tu sabes, onde se derramou o sangue.

Ela diz: os campesinos venderam tudo

e abalaram da fome

a pedra cabisbaixa do muro partiu também.

Eu conheço a voz, esta voz rouca

como silêncio do lírio morto.

Paramos num sítio seco, terra pobre

terra pobre, desabrigada da mudez afável

das árvores: a mulher devolve o lírio

à límpida voracidade da luz. E parte

como se fosse ainda rapariga, sem olhar para trás.

Descubro sinais da migração da pedra

o teu nome. Apanho do chão o fogo adormecido.

Rebelde melancolia, a palavra.

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