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domingo, 22 de fevereiro de 2015

O crocodilo no meio do corredor

*

cerejas e chuva
no maio maduro,
josé, da alegria das aves.
os homens voam cabisbaixos.
o crocodilo no meio do corredor
nos degraus de laura
exibe as condecorações antigas

como chegou ele aqui
assim pesado, sem dissímulo?
mostra os dentes
mostra o gasto cavalo-marinho
impõe silêncio
na nação sob escuta.

vivemos a guerra, josé.
o velho crocodilo
avança: ele ou o caos.
para quê dois braços: ele come
um braço.
desperdício ter duas pernas: ele devora-nos
as pernas.
para quê esses e outros luxos,
diz o crocodilo.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Acusação

*
Aos homens de sangue de Versalhes
em 1871


Ergue-te enfim,  Justiça vingadora!
Corusque em breve a tua espada ardente!
Eu vejo a Tirania omnipotente,
Enquanto ao  longe a Piedade chora...

Nasce rubra de sangue cada aurora,
E o sangue ensopa a terra ainda quente...
É o congresso de sangue o que esta gente
Abriu entre as nações, que o sangue irrora.

Ante o altar encoberto de Futuro
E ante ti, Vingadora, acuso e cito
Estes homens de insídia e ódio escuro!

Endureça minh'alma, e creia e espere,
Com um desejo estoico e infinito,
Só na Justiça que condena e fere!

Junho de 1871

Antero de Quental

Sonetos Completos
ed. Europa América

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

A GRÉCIA À FRENTE


O povo grego não é um povo complacente
O fogo disparado sobre ele é-lhe vitória
Os mais pequenos entre eles são loucos
Por liberdade razão e sua força


Ao longo da grandeza humana têm mãos
Para oporem aos punhos pés contra as garras
À guerra opõem eles a mãe-justiça
E a necessidade os guia e os ensina


A Grécia é um país sem arroios para os ratos
Ali não tem a peste túmulos consagrados
Não faz medo viver não estende sombra a morte
Lutar pelo que é seu apaga o tempo-noite


Neste cume da terra no coração da luz
O povo todo unido abre uma porta imensa
Para a paz desarmada e é aí que sucumbem
Os bárbaros aí que secará seu sangue

Na aragem do mar flor da fraternidade.

Paul Éluard

poemas políticos,  ed. Presença
trad. Carlos Grifo