sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Evocação do triste soldado

Os soldados quando chegavam à aldeia, em gozo de férias (terrível eufemismo) antes da viagem a África, faziam um número de magia. Tiravam o projéctil de uma bala e vertiam a pólvora sobre a laje, no largo do povo. Depois riscavam um fósforo e, extinta a chama voraz, despontava a palavra. Uma palavra negra, agarrada à pedra como gravura rupestre, a cheirar ainda a pólvora. Palavra breve. Podia ser o nome do triste soldado se o seu nome fosse exíguo, amor (consome pouca pólvora, não espevita dúvidas ortográficas), mãe ou sol. A palavra descobria o húmus da escrita no coração da pedra e permanecia viçosa, longos dias - a rescender a morte.

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