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sábado, 25 de outubro de 2014

Tudo o que não posso ver



eu queria escrever
escrever para ti
uma palavra apenas
que fosse a fotografia
a preto e branco
de tudo o que não posso ver
sem os teus  olhos

estou perdido
num país miserável
feito de restos dos deuses
de deuses de pedra

(cairo, junho de 1992)

*

tenho a paisagem toda


tenho a paisagem toda
frente aos meus olhos
e  não sei se é verdade
as casas abandonadas
dizem-me que sim
que não é verdade
porque a morte também humilha
as pedras
a paisagem toda

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Manhã

*
Na fresca da manhã
que arrepio suave!:
porque não vens, meu amor,
comigo ser ave?:

(Ser sonho, ser vento
e este pensamento
tão suave...)


Papiniano Carlos

As Florestas e os Ventos
livro apreendido pelo PIDE em 1953
que a Associação dos Jornalistas
e homens de Letras do Porto resgata
do silêncio em rigorosa edição
fac-similada, com texto explicativo
de Bruno Monteiro. A obra é apresentada
dia 13 de Outubro, pelas sete da tarde,
na sede da AJHLP.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

A noite e o corpo

a noite despe-se
pássaro morto de frio
estertor de corça
ferida pela lasca de sílex

suave aroma de urzes
calcorreia o teu cabelo
*


a noite, pasmo húmido
paixão inútil e obscura
música sedutora para
quem (não) gosta de estar só.


*

encho os pulmões de noite
debruçado na janela
voltada para o coração da cidade

neste momento escrevo essa sensação
um pouco fétida: avariou
o frigorífico do nosso lirismo

*

Porto,1984