a noite despe-se
pássaro morto de frio
estertor de corça
ferida pela lasca de sílex
suave aroma de urzes
calcorreia o teu cabelo
*
a noite, pasmo húmido
paixão inútil e obscura
música sedutora para
quem (não) gosta de estar só.
*
encho os pulmões de noite
debruçado na janela
voltada para o coração da cidade
neste momento escrevo essa sensação
um pouco fétida: avariou
o frigorífico do nosso lirismo
*
Porto,1984
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sexta-feira, 3 de outubro de 2014
sábado, 27 de setembro de 2014
A paixão segundo
no gerês reparto contigo
os verdes dias
a ternura do vinho lentamente
palavras como giestas floridas
que só encontro no gerês
e todas as flores de urze
virão poisar no teu cabelo
delicadeza de veados apaixonados
e há um rio escondido no arvoredo
para o teu corpo.
*
faltou-nos a coragem
de travar o nascer do dia
(como quem adia um sonho)
para que a noite
fosse noite e sempre poesia
*
abro a janela aberta e voo
como uma mancha verde de sangue
sobre a toalha - da mesa
o vinho.o pão, o talher.
a telefonia derrete-se em coisas absurdas.
*
da transumância dos pastores-poetas
nunca ninguém soube nada ao certo
dizem que se perderam no de lírio das primavera.
*
o papel é branco
como a morte azul
dos pássaros
nesta aratória triangular
lanço-lhe as palavras.
*
acordo todas as manhãs
com o sol entre os dedos
dos pés. um sol limpo
digno dos meus sonho a preto
e branco.
gerês, 1983, ano do senhor
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sexta-feira, 26 de setembro de 2014
Guardador
quem escuta
o silêncio da manhã?
eu oiço-o com os olhos
*
que segredos guardam as palavras
quando repousam sobre o teu rosto?
*
repouso
o meu trabalho é simples
sou guardador
*
aqui não há palavras
não vendemos mais palavras
só um grito:
é preciso assustar o medo
rossas,agosto de 1985
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Vieira do Minho
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