quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Sabor de pássaros



esta noite viajo num cigarro
aceso de estrelas
atravesso montanhas aves tontas de frio
redescubro árvores adormecidas
na melancolia do bosque
solto os cães o cio dos cães
e procuro palavras tenras
no impenetrável matagal
o rosto encontra a limpidez
de antiquíssima água onde alguém
morreu procurando-se - mas é noite
só me emaranho no matagal da noite

*
acordo pelo fim da manhã
sabor de pássaros na boca
espreguiço-me na erva:
sobre a fragrância roubada
no bosque pelas abelhas
na mesa as garrafas que a noite deixou vazias
as cartas esquecidas para quem me amava
o relógio com a corda partida

mãe
ó mãe
dê-me uma laranja
sinto a boca amarga


rossas(?) 1984

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