quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O TERCEIRO CICLISTA



                         A Papiniano Carlos



Os ciclistas rompem exaustos

na bruma. homens de outro tempo

pedalam no subúrbio libertos do medo

urbano. há um que fuma devagar

enquanto pedala como se quisesse

adensar a bruma. outro traz relógio

no pulso e uma mola afasta as calças

do óleo da corrente. o terceiro ciclista

pedala pedala

pedala: mavioso movimento

na direcção talvez do devir

deixa a palavra na miséria do subúrbio

nas grandes alamedas

no largo de longínquas aldeias



O ciclista que traz o relógio no pulso

diz: “desperdício, companheiro.

vão pisar as palavras: virá a primavera

não botarão flor!” o terceiro ciclista

mantém o movimento o gesto de semeador

a viagem interminável viagem

na direcção talvez do futuro

sabe que o frágil coração da palavra

é inabalável

imperecível como a vida dos sonhadores.

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