O que quereis em troca?
Nada. Quase nada, disseram.
Que apareças em público com roupa da nossa marca
a beber o nosso leite…
e se as febres te tolherem, diz que tomarás o nosso xarope.
Isso não farei. Quero vestir-me como os meninos do meu tempo; alimentar-me como os meninos do meu tempo, vencer a febre como
Impossível o teu desejo, alguém interrompe. O teu tempo perdeu-se, não existem meninos do teu tempo.
São homens?
Foram meninos, homens…
E depois?
Desapareceram, é a lei da vida.
O menino volta-se devagar, dirige-se à manjedoura. Acomoda-se na palha: adormece, sereno, embalado pelo bafo do tempo perdido.
À porta do estábulo, o desassossego agita a boa gente, agora indecisa a calcar estrume de dois milénios. Um deles, afoito, segreda algo ao ouvida da vaca.
Não!, reage o dócil animal.
Tu podias salvar humanidade da fome, da penúria!, implora o emissário afoito.
Sou muito velha para você me tratar por tu… Deixe-nos em paz!
Partiram. Uns de avião, outros de automóvel. Em redor do estábulo amontoam-se presentes. Roupas, fraldas impermeáveis, brinquedos de um tempo futuro. Dormirá mil anos, mil anos mais, o menino: emaranhado no sono, no sonho perpétuo de ser menino?
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