quinta-feira, 27 de setembro de 2007

A armadilha da palavra

Breve palavra: brévia. Em teu redor, a sebe irrompe espessa, intonsa. A noite, mas a noite, agora é noite, é noite de inverno. O canto triste dos tordos fica preso na armadilha da palavra, como se a escrita fosse arte de indagar a morte.


(in Brévia, hidra editores, Árvore, 2005)

1 comentário:

Gaivota Maria disse...

Cheira-me que gostas do Nuno Júdice. Esta poesia fez-me lembrar de ti:

Olhas para além do muro; e
o que vês? O tempo para além do tempo,a tarde que não chega, ou a noite que vai chegar quando menos a esperas,
uma última ave no limite do céu, pedindo-te que a não sigas.
Mas não cedas ao abraço da árvore,
ao apelo das raízes, à melancolia
de um desejo de horizonte.
Encosta-te a esse muro,
sabendo que ele desenha
o espaço que te foi dado,
e que as tuas mãos descobrem no frio da pedra.
Não te resignes ao que existe.
A ave que desapareceu por trás da colina conhece o caminho que os teus olhos procuram.

Nuno Júdice