segunda-feira, 24 de junho de 2013
[Nas cidades do sul]
Nas cidades do sul
há violência e há excesso,
de semente.
Estalam os rios e foge a água.
O corpo, encortiçado, racha.
Lendas vêm de há séculos assoreando
as margens.
E quando à boca de um poço vamos
provar o nosso eco,
águas puras irrompem,
noutra língua.
Luiza Neto Jorge
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segunda-feira, 10 de junho de 2013
Exausto
Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o profundo sono das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.
Adélia Prado
Bagagem, ed. Guanabara
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o profundo sono das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.
Adélia Prado
Bagagem, ed. Guanabara
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sábado, 25 de maio de 2013
domingo, 19 de maio de 2013
Os frutos de maio
Por não saber alcançar os ramos mais altos abraçado ao tronco, como faziam os meus amigos de infância, destros e corajosos, trouxe as árvores a pastar na escrita. Desamarradas da terra, as árvores voam. Chegam depois as aves, a cabra, os meus gatos e outros bichos. De repente, deparo: o tempo, as marcas do tempo: abro o portão de uma remota brévia, procuro repouso, água fresca, palavras como perdigueiros cheios de melancolia. Uma sebe de muitos anos separa o poema distante do mais recente. Pouco importa. Nasci, para que conste, numa aldeia cingida por serranias. Um dos montes tem este nome: Marouço. Os fabulosos pastores de tempos antigos, quando o mundo era movido a tracção animal, diziam ouvir do cume dessa serra, a muitas léguas de lonjura, os murmúrios do mar.
A Fome Apátrida das Aves, pref. Manuel Gusmão, ed. Modo de Ler, maio 2013
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sábado, 18 de maio de 2013
Verossímil
Antigamente, em maio, eu virava anjo.
A mãe me punha o vestido, as asas,
me encalcava a coroa na cabeça e encomendava:
"Canta alto, espevita as palavras bem."
Eu levantava vôo rua acima.
Adélia Prado
Bagagem, Ed. Guanabara
A mãe me punha o vestido, as asas,
me encalcava a coroa na cabeça e encomendava:
"Canta alto, espevita as palavras bem."
Eu levantava vôo rua acima.
Adélia Prado
Bagagem, Ed. Guanabara
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segunda-feira, 22 de abril de 2013
EXPLICAÇÃO DE POESIA SEM NINGUÉM PEDIR
Um trem-de-ferro é uma coisa mecânica,
mas atravessa a noite, a madrugada, o dia,
atravessou minha vida,
virou sentimento.
Adélia Prado
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quarta-feira, 17 de abril de 2013
Poemas imperfeitos
Janela
certas noites por aí
convido a lua
tomamos chá de cidreira
trocamos versos antigos.
Lobo
o solidário: conta
histórias felizes
aos cordeirinhos.
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