quinta-feira, 24 de abril de 2014

O Comum da Terra

(a Vasco Gonçalves)



Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
da cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esse eras tu: inclinação da água. Na margem
vento areias mastros lábios, tudo ardia.

Eugénio de Andrade
14 de Maio de 1976

12 Poemas para Vasco Gonçalves
Editorial Inova/Porto
Abril/Terceiro ano da Revolução

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