sábado, 11 de julho de 2009

O pão dos campos

Quando dizes lobo fogem palavras
das urzes: memória cinegética outra vez,
e não queria, e não queria. merouço
ribeiro da gândara. babaite, estranho
nome: babaite, as levadas de babaite
cães aflitos no rasto o gesto do pai a impor silêncio
porque o silêncio ( já o disse) é a astúcia
dos predadores, aflito coelho a iludir os cães
no tumultuoso silvaredo, irrompe
célere animal de medo na clareira
a cambalhota parte é da morte veloz
pólvora queimada no ar húmido
da manhã: vivesse mil anos jamais esqueceria
esse odor de morte e contentamento
o pai afoita os cães nas levadas de babaite,
memória cinegética sobressaltada
quando dizes lobo
o pão dos campos recolhido
metáfora de subsistência: o pão dos campos
da minha infância que era o milho
pai, afoite os cães
o pão dos campos ainda e a curiosa forma de o medir
a vessada da ribeirinhas dá três carros de pãocarros de bois, entenda-se, a chiar lentamente
pela miséria real dentro. o pai afoita a matilha
sei os nomes desses remotos cães de caça
por vezes trago-os para a escrita
alguns (agora o verão) farejam a palavra hidranja
e logo adormecem
quando dizes lobo, levantam o pêlo do dorso
procuram o meu auxílio

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