sábado, 8 de setembro de 2007

O homem na névoa lembra-se da mãe


O homem na névoa lembra-se da mãe. “Antigamente os pássaros não voavam”, diz. Dos campos lavrados, diante dos seus olhos, levantam-se pombas, em bando. Campos lavrados de fresco, há sementes ainda em busca do fértil coração da terra: as pombas e de mais aves conhecem bem esta falha, a correria imóvel de grãos indefesos. No mês de Maio (continua a mãe na lembrança), a névoa ilumina as sebes de camélia, as folhas da figueira. Ilumina a magnólia, errante na folhagem densa: a magnólia, a curtir o luto da morte temporã das suas flores.

Depressa o bando se dilui na delicada penumbra humedecida. O homem olha devagar, retém a paisagem. “Antigamente pensava: os pássaros não voam”.

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