segunda-feira, 21 de outubro de 2013

[A voz emboscada]

Não há um amigo
perto. Outros pés
não há que tragam
o ir e o vir
de um milhar de ruas

Há uma boca
industrial e devora
a raiva toda
dos lugares.

Há a voz emboscada
nos livros por ler
os pulsos que não
nos levam já
a qualquer carta
pelo menos hoje
pelo menos carta.

Há as mães acordadas
e emigram connosco
noite após noite
para o dia seguinte

e a cicatriz que cose
pela face alguns
remendos doutras
companhias.

Victor Matos e Sá

Companhia Violenta, ed. Centelha, 1980

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