Para que servem? A dúvida morde-me os calcanhares quando entro numa feira do livro. Para que servem os livros? Uns ainda envoltos no cheiro a tinta fresca; outros marcados pelo tempo, com dedadas do tempo. Livros, livros; muita gente no labirinto dos livros. A inutilidade dos livros. Serão leitores? Antigos leitores, futuros leitores, clandestinos escritores a imaginar a glória enquanto observam os livros dos outros? E que procuro eu no labirinto das palavras? A dúvida, eterna dúvida, salta aos calcanhares, segreda-me: Desiste, desiste, pá. Não escrevas: planta glicínias junto da porta das casas abandonadas. Ou uma romãzeira na manhã límpida de Março. É a escrita da terra, a mais simples, a pobre das escritas. Terá sempre leitores. A dúvida. Sempre a mesma dúvida: para que servem os livros? Porque é teimosa e perturbadora, enfim, eu respondo-lhe: para quase nada. Aquele quase assusta-a, afasta-a. E então, avanço liberto no labirinto: revejo velhos livros que me ajudaram a atravessar a noite, ou verteram melancolia na tarde de Agosto, ou me trouxeram a revolta (a revolta também se lê e é contagiosa) em momentos de resignação.
Os livros!
Os livros, os meus livros à frente de toda a gente. Em indefeso silêncio, à espera que alguém os leves. E os ilumine. Como quem planta uma romãzeira para dar outra luz à manhã. Amanhã. Amanhã vou a Braga, à Feira do Livro. Levo a dúvida no bolso – como clandestino leitor.
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
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