sexta-feira, 9 de maio de 2008

Hortelã intransitiva

que procuro na borrasca de maio
as cerejas da infância as trutas
na manhã de ervas húmidas nos rios de basto
o rio de painzela onde emergiam lírios
nos açudes
era aí entre as açucenas que o meu pai
longe da servidão da velhice pescava as trutas
o silvo do fio retesado, a frágil cana da índia vergada
e trémula como vara de vedor .
atapetava de hortelã o cacifo de vime
a morte das trutas cheirava bem.

que procuro na borrasca de maio
a hortelã, esse cheiro da hortelã
felicidade indizível talvez intransitiva
longe da ignorância da velhice o meu pai
a bater lentamente o painzela
macieiras floridas debruçadas na água
campos lavrados em redor. um cão faminto e enfurecido
ladrava do fundo do medo nós
o pai e eu passos cuidadosos
para não assustar o rumor límpido da água .

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