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Tu não sabes, a mulher das colinas
esperou por mim a vida toda. Admitiu
o impossível conselho teu: não dorme
para perseverar a juventude.
Uma ave silenciosa diz-me o atalho das colinas,
a mulher sustém um lírio contra o peito.
Peço, peço-lhe que me leve junto do muro,
tu sabes, onde se derramou o sangue.
Ela diz: os campesinos venderam tudo
e abalaram da fome
a pedra cabisbaixa do muro partiu também.
Eu conheço a voz, esta voz rouca
como silêncio do lírio morto.
Paramos num sítio seco, terra pobre
terra pobre, desabrigada da mudez afável
das árvores: a mulher devolve o lírio
à límpida voracidade da luz. E parte
como se fosse ainda rapariga, sem olhar para trás.
Descubro sinais da migração da pedra
o teu nome. Apanho do chão o fogo adormecido.
Rebelde melancolia, a palavra.
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