Conheci
Baptista Bastos, em pessoa, pouco antes
do final do milénio. O homem irrompeu sorridente
e palavroso na redação da revista Época,
ainda em montagem, algures nos arrabaldes de Lisboa. Não sei o nome da terra,
lembro bem da forma como o jornalista se apresentara ao jovem
camarada. “Em Portugal só há dois comunistas: um sou eu, o outro é o Cunhal!” Fiquei
assombrado com a farsa do mestre
pouco inclusivo. Sem me conhecer de lado algum, afastava-me do restrito grupo
português dos ‘herdeiros universais’. Encontro breve, a partir daí nunca mais
vi Baptista Bastos – trabalhei apenas umas semanas na redação-Porto da Época, que encerraria meses depois. Anos
mais tarde, encontro-o cronista nas páginas do Diário de Notícias, vindo no cardume liderado pelo não menos famoso
(diziam-no “o Mourinho do jornalismo”) João Marcelino. Alguns anos volvidos, o cronista
destemido foi “saneado”; Marcelino rescindiu amigavelmente, dezenas de
jornalistas – em dois despedimentos coletivos num curto espaço de tempo – viram
os postos de trabalho “extintos”. O saneado Baptista Bastos, ferido no orgulho
de sobrevivente do jornalismo bom, despediu-se com um elogio a Marcelino. Um
turibular inaudito ao homem que o trouxe
para o DN, sem uma única palavra aos
camaradas despedidos (camaradas ou colegas, Baptista Bastos?)
Para
ser sincero, o elogio de Bastos a Marcelino
não me causa qualquer perplexidade. Faz parte de natureza de certas pessoas que
sabem pôr em prática o verbo turibular. Espantaram-me, sim, as palavras do
Conselho de Redação do DN, na despedida, ao diretor que rescindia
amigavelmente, após ter participado no segundo despedimento coletivo no jornal.
E mais espantado fiquei com o Sindicato de Jornalistas que, durante o processo
do despedimento coletivo, censurou um manifesto pelo facto do documento “citar nomes” – um
deles, João Marcelino – na explicação da crise que atingiu o grupo.
De
Baptista Bastos entendo bem a mágoa de saneado. Um homem no meio do inverno tudo
faz para sobreviver. Mas, bem vistas as coisas, O Correio da Manhã parece o
jornal certo para sua intrépida pena. É bom lembrar: Marcelino consubstanciou
aí a fulgurante carreira.
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