sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Voz, as vozes

Ouve

este rio é um cardume

de vozes

vozes espavoridas na água

na limpidez da água

e a tua voz

inerme como um lírio

junta-se a todas

as vozes deste rio

Ouve

ouve devagar as vozes:

saberás então o nome

o seu estranho nome

Ele é homem, rio Homem

devora, uiva, engana

como os homens

até se perder no abismo

Mas às vezes é doce como a água


Ouve

o leito de pedras afeiçoadas

vai amortalhar a tua morte

ele é o Homem!

E um dia

ouve

e um dia ele afoga a aldeia

os ódios e os sonhos

afoga as casas

e o amargo cheiro do gado

Ninguém

e ninguém dirá o teu nome!

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