Ouve
este rio é um cardume
de vozes
vozes espavoridas na água
na limpidez da água
e a tua voz
inerme como um lírio
junta-se a todas
as vozes deste rio
Ouve
ouve devagar as vozes:
saberás então o nome
o seu estranho nome
Ele é homem, rio Homem
devora, uiva, engana
como os homens
até se perder no abismo
Mas às vezes é doce como a água
Ouve
o leito de pedras afeiçoadas
vai amortalhar a tua morte
ele é o Homem!
E um dia
ouve
e um dia ele afoga a aldeia
os ódios e os sonhos
afoga as casas
e o amargo cheiro do gado
Ninguém
e ninguém dirá o teu nome!
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