sábado, 25 de julho de 2015

O derradeiro amante

*
Menino, não passes sem antes me haver amado.
Sou bela ainda, de noite; verás quanto o
meu outono é mais quente que a primavera
de outra.


Não procures o amor das virgens. O amor é
uma arte difícil, na qual são pouco versa-
das as rapariguinhas. Passei a vida toda a
aprendê-la para dá-la ao meu derradeiro
amante.

Meu derradeiro amantes serás tu, bem sei. Eis
minha boca, pela qual todo um povo empa-
lideceu de desejo. Eis meus cabelos, esses
mesmos cabelos que Psappha, a grande,
cantou.

Reunirei, por ti, tudo o que me restou de minha
perdida mocidade. Queimarei as próprias
lembranças. Dar-te-ei a flauta de Lykas e
o cinto de Mnasidika.


Pierre Louÿs

O AMOR DE BILITIS
Trad. de Guilherme de Almeida
Livraria José Olympio Editora,
Rio de Janeiro, 1943

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