O Prof. Cavaco Silva, "provedor do povo", passa por dificuldades. A reforma é curta, sequer dá para as tesouras da poda. O Prof. Cavaco, um dos muitos reformados deste país forçados a trabalhar até ao fim, nos raros momentos de lazer poda as suas laranjeiras. E nessa arte, dizem-me, o "provedor do povo" demonstra habilidade. Este país, desde a sua longínqua génese afonsina, foi desenhado, conquistado, arroteado para os velhos. Reforma curta, nem chega para compor o avental, ou adquirir o apetrecho para a solidão digital, ou a embalagem de comprimidos que afugentam pesadelos. Noites frias, velhice fria, reforma fria como as mãos dos velhos. Ao povo português coube um "provedor" da penúria; depois de uma longa e árdua vida de trabalho, duas reformas, somadas, igual a miséria. Miséria, miséria. Este país, talvez pelo sabor a vinho do Porto, não é para os novos. A reforma breve. Talvez o Dr. Mário Soares, num dos seus gestos de travar o fim da (nossa) História, se candidate à presidência da JS. Talvez o Dr. Artur Santos Silva, num sublime acto de despojamento, abandone a Gulbenkian e se dedique a escrever a biografia de um tal Sebastião Ribeiro, jurista, defensor de antifascistas, republicano, expulso pela Ordem dos Advogados. Caído no olvido. Talvez o Prof. Eduardo Catroga, num gesto humilde, abdique da EDP e dos outros sítios onde administra e adicione sua reformita à reformita do “provedor do povo” e, seguindo o exemplo de Mofina (ou morfina) Mendes, criem o primeiro banco mundial para financiar os velhos que precisam de trabalhar quando chegam a velhos.
Um país com “o provedor do povo” na penúria, sem dinheiro nem saliva para comprar e colar os selos para as cartas de reposta às cartas que recebe do povo, da plebe, um país assim nem é sequer um “lugar mal frequentado”. É o vazio. É indignidade. É o nada – e “nada nos falta porque nada temos”.
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