segunda-feira, 10 de janeiro de 2011


Dócil matilha, as palavras, ao redor de uma mulher e sua mágoa antiga. Há um livro, herdado de outra mulher, que a ajuda a atravessar o bosque e as ciladas da narrativa. Rente a morte, conta ao neto, ainda menino, a sua história; pede-lhe para guardar as palavras com alma. Narra devagar, como se tivesse receio de esvaziar o passado, o lado solar da sua vida. A rapariga dos lábios azuis e o fogo de história mais íntimas ficam, todavia, na obscuridade. É a vez do neto intentar reconstruir esse passado indizível através de uma camélia. Memória de uma mulher segregada de oitocentos, que percorre grande parte do século vinte. Memória também das árvores (“são como homens”), e das palavras – derradeiro afecto para obstruir a barbaridade.

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