segunda-feira, 24 de setembro de 2012

À ESPERA DOS BÁRBAROS


O que esperamos na ágora reunidos?

        É que os bárbaros chegam hoje.



Por que tanta apatia no senado?

Os senadores não legislam mais?


        É que os bárbaros chegam hoje.

        Que leis hão de fazer os senadores?

        Os bárbaros que chegam as farão.



Por que o imperador se ergueu tão cedo

e de coroa solene se assentou

em seu trono, à porta magna da cidade?



         É que os bárbaros chegam hoje.

        O nosso imperador conta saudar

         o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe

         um pergaminho no qual estão escritos

         muitos nomes e títulos.




Por que hoje os dois cônsules e os pretores

usam togas de púrpura, bordadas,

e pulseiras com grandes ametistas

e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?

Por que hoje empunham bastões tão preciosos,

de ouro e prata finamente cravejados?


         É que os bárbaros chegam hoje,

         tais coisas os deslumbram.



Por que não vêm os dignos oradores

derramar o seu verbo como sempre?


         É que os bárbaros chegam hoje

         e aborrecem arengas, eloquüências.



Por que subitamente esta inquietude?

(Que seriedade nas fisionomias!)

Por que tão rápido as ruas se esvaziam

e todos voltam para casa preocupados?


         Porque é já noite, os bárbaros não vêm

         e gente recém-chegada das fronteiras

         diz que não há mais bárbaros.



Sem bárbaros o que será de nós?

Ah! eles eram uma solução.



Konstantinos Kaváfis

trad. José Paulo Paes


Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1982



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