quarta-feira, 27 de maio de 2009

O amante

Era devoto do vinho. Com a Primavera desaguava no café próximo do escola secundária. Lentamente, espiava as pernas das raparigas. Algumas incendiavam a cena: erguiam as saias, abriam as pernas, desabotoavam a blusa. Ele lambia-se de desejo. Ou seria tão só, afinal, o desejo do desejo. Abandonava o posto de vigia; na rua, a canalha acirrava-o com apupos. Um dia, surgiu leve, cabelo de risca à banda, casaco branco e um cigarro – extra-longo – entre os dedos da mão direita. Na outra, uma rosa de Alexandria. Deixou fugir um olhar de desdém, encenado, ao encontro das raparigas. Uma garrafa de água, por favor. Os professores de religião e moral, nesse mesmo dia, marcaram uma reunião de emergência.

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