sábado, 25 de julho de 2015

O derradeiro amante

*
Menino, não passes sem antes me haver amado.
Sou bela ainda, de noite; verás quanto o
meu outono é mais quente que a primavera
de outra.


Não procures o amor das virgens. O amor é
uma arte difícil, na qual são pouco versa-
das as rapariguinhas. Passei a vida toda a
aprendê-la para dá-la ao meu derradeiro
amante.

Meu derradeiro amantes serás tu, bem sei. Eis
minha boca, pela qual todo um povo empa-
lideceu de desejo. Eis meus cabelos, esses
mesmos cabelos que Psappha, a grande,
cantou.

Reunirei, por ti, tudo o que me restou de minha
perdida mocidade. Queimarei as próprias
lembranças. Dar-te-ei a flauta de Lykas e
o cinto de Mnasidika.


Pierre Louÿs

O AMOR DE BILITIS
Trad. de Guilherme de Almeida
Livraria José Olympio Editora,
Rio de Janeiro, 1943

terça-feira, 21 de julho de 2015

[Magnífico animal]

*

Magnífico animal e tão perfeito
e de vocação inequívoca,
de ti se desprende a luz
e em ti se resume o mundo.


Devotada abelha,
haste de chuva,
em teu corpo até as aves cantam
de outra maneira

e a luz é mais luz
e a vida é mais vida.

Eduardo White

O País De Mim,
ed. associação dos escritores moçambicanos
col. Timbila

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Esperar o inesperado

O que se está a extinguir, neste nosso mundo pós-eurocêntrico, é tão só a certeza acerca do inevitável conteúdo do porvir. Débil expectativa, pois, como frisou Heraclito, e Ernst Bloch repetiu, quem não espera o inesperado jamais o poderá encontrar.

Fernando Catroga
Autobiografia
JL, 27 de maio