quinta-feira, 31 de julho de 2014

Matéria da aluvião


A palavra,como
a nossa vida, é inexorável substância
de aluvião.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Poema


Onde só queda alguén pra aguantar dos nomes
poño eu a ampla fronda
a redroma dun castiñeiro
e sentada á súa sombra xunta a longa estirpe do
último labrego.


Non coma as estirpes dos reis
ciscadas en múltiples pazos e alcázares
en países diversos
senón as estirpes campesiñas
xeraciós e xeraciós
xuntas á porta das casas pechadas
na escaleira de pedra
ou nas raigañas fóra dunha árbore coma esta.


Estirpes da gleba
amosados mortos que nin oxa o sol de Xullo
cando se erguían pra gadañar co orvallo!

Gadañarei outro ano
gadañarei em homenaxe
non por que a herba volva tenra e igual
e defender os prados gañados á bouza.

Gadañarei coma nas grandes rogadas do Vrao
tralos gadañeiros sucesivos
lambendo com brío os calcaños de diante.
Ir e vir a gadaña canta a ritmo binario
sobre um fondo de roxe ou río contino.

O Courel. Vrao 1995

Uxío Novoneyra

Onde só queda alguén pra aguantar dos nomes

ed. Noitarenga

veias


Limando musgos e penedias, a simplicidade da água
e a ciência dos anos.

Nunca viverás ao arrepio das escamas, disse.

Que estranha determinação te move para outras águas
deixando para trás a hortelã
brava e as raízes descarnadas?

Rui Duarte Mangas


O Mar da Foz

ed. Modo de Ler

domingo, 20 de julho de 2014

Quintal


*
o rasto doce
das ameixas maduras
caídas no chão

é verão, é o verão.

sábado, 19 de julho de 2014

Rumor de água



Rumor de água,
na ribeira ou no tanque?


O tanque foi na infância
minha pureza refractada.
A ribeira secou no verão.


Rumor de água
no tempo e no coração.


Rumor de nada.


Carlos de Oliveira

Trabalho Poético
ed. Sá da Costa

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Última Função



A Fiama Hasse Pais Brandão




Tudo da boca
me sai em borboletas. Vão


pousar
nos versos que deixaste
abertos na estrada. Além


o mar aqui
a neve, os remos resistindo
aos paradoxos. Tudo


me sai pesado
ou tece
agora por seus pés


substantivos.




José Carlos Soares

areia de same
ed. o correio dos navios

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Na Minha Idade


Vivo ilegalmente
na minha idade: falhei alguns aniversários.
Caminhei até onde o medo permitiu,
à beira das levadas de rega.


O meu primeiro amor foi um gafanhoto
verde,depois outros bichos pequenos.

Nunca me apaixonei no cinema
como as outras raparigas: apaixonei-me
pelo cinema.

Teresa M.G. Jardim

Jogos Radicais
Assírio & Alvim, 2010

quarta-feira, 16 de julho de 2014

[Patria]

*
É xa hora de que señas toda patria dos teus
dos que gardaron a fala em que máis se dixo adeus
e señas dona de ti e señora de falar
señora de decidir e dona de se negar.

Uxío Novoneyra

Do Courel a Compostela
Sotelo Blanco Edicións, 1988

sexta-feira, 11 de julho de 2014

chegar à fala



na sua grafia mar
lembra amor incompleto
foz é rio que chega à fala
e perde a doçura.
mar da foz: verso inacabado
de sabor a algas
manuscrito trágico de galeão
antigo que pela manhã eugénio
lê da janela
brandão dita em silêncio
à secretária, graça moura leva
no viático da melancolia.



O mar da foz
recolha de poemas e de outros lugares
nos arredores da poesia por josé da cruz santos

ed. modo de ler. 2014

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Verão


À noitinha cala-se a queixa
Do cuco no bosque.
Inclina-se mais o trigo,
A papoila vermelha.

Trovoada negra ameaça
Por sobre o outeiro.
O velho trilo do grilo
Morre no campo.

Já não se mexem as folhas
Do castanheiro.
Na escada de caracol
Ruge o teu vestido.

Calma reluz a vela
No quarto escuro;
Uma mão de prata
Apaga-a;

Calma do vento, noite sem estrelas.


Georg Trakl
Poemas
versão portuguesa de Paulo Quintela

ed. O oiro do dia